Shakira é, na minha opinião, a maior letrista da música pop (só perdendo, talvez, para Marília Mendonça) e as letras de Fijación oral vol. 1 não me deixam mentir. Na música nova, bzrpdsjsaaghgsfdhsf (kkk), a colombiana não decepciona: na letra, cheia dos trocadilhos geniais e alfinetadas que lhe são peculiar, Shaki discorre sobre o chifre que ela levou de Piqué. Ainda que ela se compare com a Outra (e a relegue à categoria de produto de segunda classe, algo sempre meio uó), o que me agrada no poema é que o foco do esculacho é quase totalmente no ex-marido, não na amante. O tom de “eu sou muito melhor que ela” continua lá, ok, mas ela coloca Piqué no devido lugar dele (lugar de otário kkk).
Aí, com tanto debate em torno da gaia que Shakira levou, fiquei aqui pensando numa coisa: no senso comum heterossexual, a culpa da gaia (a posta ou a levada) é sempre da mulher, né? E de a Cry me a river a Better than revenge, passando por Alanis Morissette e Beyoncé, a música pop ora reflete, ora reforça a lógica da desresponsabilização do homem - e isso acontece geralmente via slut shaming da “Outra”.
Veja: todo mundo tem direito de sentir e expressar raiva, quando o acordo que você tinha com seu janjo não é respeitado. Mas é quem “trai” o traidor, não a ursa. Aliás, sejamos sinceras: num mundo machista e misógino, ela é quase sempre a parte mais frágil dessa equação.
Para humanizar a Outra, indico a leitura de For my lover returning to his wife, poema espetacular de Anne Sexton, que traduzi em 2016 para o Suplemento Pernambuco (clique aqui para ler a tradução) e que a própria Sexton vocaliza, no link abaixo (é de se arrepiar inteira):
Ainda falando em humanizar a ursa, é difícil esquecer o poema Amante não tem lar, da genial Marília Mendonça. É como diz aquele ditado: um dia da corna, outro dia é da ursa. Por isso, fica aqui meu apelo: cornas e ursas: uni-vas! Em respeito a ambas, fiz essa playlist aqui:
Chifre na política: a quebra do sigilo de 100 anos das visitas à Michelle Bolsonaro deixou os telespectadores da novela O rei do gado (kkk) animados para ver as cenas dos próximos capítulos. Eu acho que o Naro merece todas as gaia do mundo, mas Micheque é provavelmente a única ursa com a qual eu não quero conversa. Lembremos: ursa burguesa, cúmplice da familícia, ela foi e é agente do fascismo brasileiro, aliada do agronegócio em particular e das elites econômicas em geral, co-responsável pelo genocídio causado pela Covid-19 e pelo genocídio do povo Yanomami.
Chifre na TV: eu não sei as senhoras mas eu hiperventilei quando vi meu corno preferido, Aidan, de volta a Sex and the city (ou And just like that…, como queiram).
Chifre de beauté: é muito ruim quando teu esmalte te trai e some da tua unha antes do esperado. Como eu tenho mais o que fazer do que noiar com isso, desenvolvi essa ténica aí, que podemos chamar de “estampa de vaca” (profana). Em vez de retocar o esmalte, tentando fazer parecer que não descascou, eu vou lá e taco outra cor em cima. De perto fica horrível, mas de longe fica top kkk
A corna que vos escreve por aí:
E já que o tema é chifre, apoie a poesia brasileira e compre o seu!
Na edição de janeiro do Suplemento Pernambuco, escrevi uma resenha sobre O limiar da fendas, livro de estreia do poeta amazonense Douglas Laurindo, que saiu dia desses pela Urutau.
Se tu tá em Berlim, parte 1: no domingo dia 5 de fevereiro vou fazer uma leitura com ninguém menos que Cassandra Troyan. Vai ser na Hopscotch Reading Room (Gerichtstraße 45, 13347, em Wedding), a partir das 17h!
Se tu tá em Berlim, parte 2: eu e Angélica Freitas vamos oferecer uma oficina de poesia de 2 a 31 de março! Para saber mais e fazer tua inscrição, clica aqui.
Uma corna culta (ou “lidos dos mês”):
kiwi, de Pedro Cassel
A terra e o homem no Nordeste, de Manuel Correia de Andrade (MARAVILHOSO)
Comprei esse mês mas ainda não li Carceral Capitalism, livro de ensaios da poeta estadunidense Jackie Wang: “Nesta coleção de ensaios (...) Wang mostra que o novo capitalismo racial começa com governança parasitária e empréstimos predatórios que estendem o crédito apenas para expropriar depois. (...) Embora essas técnicas de governança geralmente envolvam confinamento físico e a execução sancionada pelo estado de negros americanos, novos modos carcerários obscureceram a distinção entre dentro e fora da prisão. À medida que as tecnologias de controle são aperfeiçoadas, a carceralidade tende a se misturar à sociedade”. Vrau!
E se você chegou até aqui e tá se perguntando “ que djabéisso?”, eu explico: esse ano, se estivesse vivo, o meu blog vodcabarata ponto blogspot completaria 18 anos. Com a efeméride da maioridade da Dra. Vodca em mente, e muito inspirada na deliciosa newsletter da minha amiga Gisela Gueiros, minha ideia é reviver um pouco do espírito do finado blog (que era tipo Sex and the city sendo que nos trópicos, ou seja, Sex and Recife kkk), com 12 posts temáticos, no decorrer de 2023, e depois partir pra outra. Gostasse? Mês que vem tem mais! Assina aqui, mulé:
Eu amava muito o vodca, que coisa boa poder te acompanhar por aqui! Beijo pra tu! :)
amei absolutamente tudo nessa newsletter