Na sexta-feira foi publicada a resenha que escrevi sobre o novo e lindíssimo filme de Kleber Mendonça Filho, Retratos Fantasmas, no blog da Boitempo. É um textão de cinco páginas, que tomou meus últimos dias e acabou que de não deu mais tempo de escrever algo pra cá.
Pra compensar, gravei um áudio do texto, pra tu ouvir enquanto tu faz a faxina de domingo, se não tiver com saco de ler:
E também aqui vai um follow-upzinho, com algumas coisas que me perguntaram no insta, depois da publicação do texto:
1. Tem poemas de Maria Malinovskaia pro português?
Infelizmente não, ou pelo menos não que eu saiba. Mas tem várias traduções pro inglês. Sei que não é a sugestao mais democrática, mas nesse link tem vários. E foi dessa entrevista que saiu a citação dela que uso na resenha:
a poesia só pode ser forte quando a sociedade deixa de ser passiva
2. Não achei o livro Anatomical theatre, de Irina Kótova
Nem eu! Mas nesse link tem algumas traduções para o inglês. E tem essa, que eu fiz de um poema dela, durante uma oficina de tradução experimental no Instituto de Linguística, da Academia de Ciências da Rússia. Ela foi feita com Aliosha Prokopiev (como eu não falo russo, ele traduziu do russo pro alemão e eu traduzi do alemôo pro português brasileiro):
as tesouras cirúrgicas dos aviõezinhos de papel
de irina kótova
a guerra –
é quando
os cirurgiões
usam pinças cirúrgicas pra fumar bitucas
suas mãos limpas
cheiram à goma
sobre as macas –
com lençóis manchados de sangue
estão cobertas as caras
mas ficam de fora os dedos dos pés frios
alguns – com as unhas pintadas
sobre as etiquetas – números
os aviõezinhos de papel têm
as asas cortadas
com as tesouras cirúrgicas da guerra
já os pilotos foram recortados
3. O aborto é legal na Alemanha, eu tenho uma amiga que fez na médica dela
Não é, não. A Alemanha adora se amostrar como régua civilizatória para o resto da Europa e para o mundo, por causa da sua assim-chamada “cultura da lembrança” (com a qual tenho uma séria de problemas, sobre os quais escrevo outro dia), mas ela é tudo menos isso.
O aborto aqui é ilegal, sendo apenas juridicamente tolerado. Grosso modo, no código penal o aborto é tipificado como subparágrafo da seção que regula assassinatos: é como se aborto fosse um assassinato tolerado. Esse meio-termo (de não legalizar, mas tolerar) foi o que as feministas conseguiram, nas negociações logo após a queda do muro. O novo governo da Alemanha unificada queria manter a lei da Alemanha ocidental, onde o aborto era proibido.
Além disso o aborto não é oferecido pelos planos de saúde, custando entre 300 e 600 euros, e a mulher que decidir fazer pode ser obrigada a se submeter a um aconselhamento psicológico.
4. Por que você diz que Lisboa, Barcelona e São Paulo são “excelentes maus exemplos do que acontece quando os governos deixam a revitalização dos bairros centrais na mão do capital privado”?
Recomendo esse artigo da Jacobin Brasil sobre crise habitacional em Lisboa
Recomendo o documetário Bye Bye Barcelona, sobre a crise habitacional de lá:
(tem legendas em espanhol e em inglês)
E no caso de SP recomendo um dos livros mais importantes da minha vida, Por que ocupamos, de Guilherme Boulos. É leitura fundamental para qualquer militante por moradia, mas também para qualquer pessoa preocupada com os rumos das nossas cidades.
É isso! Aproveita o resto do domingo pra assistir Retratos Fantasmas! Pra ver se o filme tá passando na tua cidade, clica aqui:
Até outubro!
Valeu o textão! Valeu o trabalho dos últimos dias. Resenha bacana demais. E valeu pelo áudio, parece que a gente tá na cozinha, conversando, tu apoiada na beirada da pia enquanto eu lavo a louça. E tua história com a cidade de Recife e teu sotaque contando tua história são um filme, um outro filme. Um presente. Valeu mesmo. Agradecida por essa vodca.