meu avô paterno morreu mês passado, aos 104. tô aqui lendo seu texto muito emocionada, porque já tem uns anos que eu tento entender um pouco mais do passado dele, mas não consigo. tudo o que sei tem cores de realismo fantástico (suponho que porque a gente não tenha muita representação de vidas parecidas com a vida dele por aí - talvez por isso meu espanto quando assisti "Arábia" no cinema, essa sensação inesquecível de ver a vida do meu pai, dos meus tios, a casa da minha avó, a forma de falar - e de não falar), e me dá uma tristeza enorme pensar que numa tarde qualquer, há alguns anos, eu mostrava imagens aéreas do google pro meu pai, quis mostrar a cidade onde ele nasceu e ele me disse: a gente podia levar seu avô lá algum dia, quem sabe ele não reconhece a casa, ele nunca soube o que foi feito dela. meu avô e minha avó saíram de Barra Longa quando meu pai tinha um ano de idade. reza a lenda (fantástica, real) que saíram a pé e foram como deu até João Monlevade, onde a então Belgo Mineira contratava trabalhadores para a siderúrgica. A Belgo que empregou meu avô, meus tios, meu pai - a vida toda.
meses depois dessa conversa com meu pai, Barra Longa foi varrida pela lama.
nossa marcela, emocionada aqui. muitas dessas histórias de vida sao apagadas junto com as cidades, e muitas cidades sao apagadas por causa do extrativismo. espero que tu consiga escrever ou, de alguma forma, registrar esse passado (que também transborda no presente, né). obrigada por compartilhar tua história aqui. um beijo grande pra tu e pros teus!
Ivi, seus links mais longos aparecem como frases quebradas no texto. Sinto muito pela ausência de vestígios na sua história, infelizmente isso é tão comum nesse país que parece que até é normal. Adorei o texto do mês e a fotinha da mini vc. Beijo
brigada pelo feedback, paula! para mim aparece tudo funcionando, tanto no celu quanto no computador. se nao for pedir muito, manda um screenshot pra mim por DM ou email? ivanova.ivanova@gmail.com, agradeco de coracao. beijo grande!
adoro seus textos mas esse me tocou em um lugar ainda mais especial, tb tenho avós com histórias apagadas pq pobres, da parte paterna a gente só tem uma única foto e olhe lá. é uma tentativa de forçar uma história em que pobre e o que pobre constrói não existe, mas a gente luta contra. minha vó materna já dizia: quem é lembrado nunca morre - nem vão matar nossa história nem nossas lutas! ❤️
quem é lembrado nunca morre! é sobre isso <3 beyoncé tem uma música chatíssima sobre isso também hahaha aquela "i was here", detesto hahaha mas vale a mensagem. beijo, kami!
"Mas não há nada de misterioso no passado deles: o que encontrei foi simplesmente um vazio."
me lembrei de um ensaio da saidiya hartman chamado "vênus em dois atos", onde ela fala sobre um "silêncio de arquivo" e uma "violência de arquivo". caso não tenha lido, pode ser que seja legal pra sua pesquisa. joga os artigos científicos aqui pra nois s2
ô, mulher, eu vou levar as reflexões desse texto para a EJA com certeza. como professora de história num projeto de educação popular que parte da escrita como princípio educativo, esse texto me despertou tantas ideias! é tão maravilhoso dar espaço para que alunos e alunas escrevam sobre seus sonhos pro futuro, sempre remetendo àquilo que eles trazem de seu passado... é bom demais se sentir parte desse registro de memória da classe trabalhadora, e teu texto me deu uma certeza de que tô no caminho certo. obrigada.
o queeeeeeeee? quero saber tudo! nossa mana que comentário mais emocionante, que bom que te inspira e que orgulho saber que tenho leitora professora de EJA (meu sonho, pena que nao fiz faculdade de pedagogia nem de coisa nenhuma). um dia me convida pra participar quero visitar a turmaaaa é onde? e se quiser manda mais detalhes dessa tua ideia por email? vamo trocar mais? ivanova.ivanova@gmail.com! beijo!
mar 26, 2023·editado mar 26, 2023Gostado por Adelaide Ivánova
Memória em perspectiva de classe. Seu apagamento como projeto político. Quando a necessidade de olhar para as minhas perdas familiares (mulheres) dizem muito de uma dor-saudade que é também vazio-sintoma desse apagamento "histórico das famílias pobres", encontro alento na leitura desse texto. Vou tentando daqui impulsionar movimento que desemboque em algo partilhável com as minhas e os meus, com aquelas e aqueles além. Obrigada pela escrita e, sim, tenho interesse em acessar os artigos científicos.
como essa história se repete, né? até os nomes. o nome da minha avó materna também era adelaide. o nome do meu avô paterno é raimundo. ela, no ceará. ele, no rio grande do norte. pra atrás, ninguém sabe nada. a palavra sempre volta: “pobreza”.
eu nao acredito que os nomes eram os mesmos <3 se bem que raimundo é, gracas a deus, um nome bem comum no sertao...! se eu tivesse filho esse ia ser o nome, mas como nao vou ter, espero que outros botem hahaha abraco pra tu!
meu avô paterno morreu mês passado, aos 104. tô aqui lendo seu texto muito emocionada, porque já tem uns anos que eu tento entender um pouco mais do passado dele, mas não consigo. tudo o que sei tem cores de realismo fantástico (suponho que porque a gente não tenha muita representação de vidas parecidas com a vida dele por aí - talvez por isso meu espanto quando assisti "Arábia" no cinema, essa sensação inesquecível de ver a vida do meu pai, dos meus tios, a casa da minha avó, a forma de falar - e de não falar), e me dá uma tristeza enorme pensar que numa tarde qualquer, há alguns anos, eu mostrava imagens aéreas do google pro meu pai, quis mostrar a cidade onde ele nasceu e ele me disse: a gente podia levar seu avô lá algum dia, quem sabe ele não reconhece a casa, ele nunca soube o que foi feito dela. meu avô e minha avó saíram de Barra Longa quando meu pai tinha um ano de idade. reza a lenda (fantástica, real) que saíram a pé e foram como deu até João Monlevade, onde a então Belgo Mineira contratava trabalhadores para a siderúrgica. A Belgo que empregou meu avô, meus tios, meu pai - a vida toda.
meses depois dessa conversa com meu pai, Barra Longa foi varrida pela lama.
3. sim, eu me interesso por isso. :)
nossa marcela, emocionada aqui. muitas dessas histórias de vida sao apagadas junto com as cidades, e muitas cidades sao apagadas por causa do extrativismo. espero que tu consiga escrever ou, de alguma forma, registrar esse passado (que também transborda no presente, né). obrigada por compartilhar tua história aqui. um beijo grande pra tu e pros teus!
Ivi, seus links mais longos aparecem como frases quebradas no texto. Sinto muito pela ausência de vestígios na sua história, infelizmente isso é tão comum nesse país que parece que até é normal. Adorei o texto do mês e a fotinha da mini vc. Beijo
brigada pelo feedback, paula! para mim aparece tudo funcionando, tanto no celu quanto no computador. se nao for pedir muito, manda um screenshot pra mim por DM ou email? ivanova.ivanova@gmail.com, agradeco de coracao. beijo grande!
adoro seus textos mas esse me tocou em um lugar ainda mais especial, tb tenho avós com histórias apagadas pq pobres, da parte paterna a gente só tem uma única foto e olhe lá. é uma tentativa de forçar uma história em que pobre e o que pobre constrói não existe, mas a gente luta contra. minha vó materna já dizia: quem é lembrado nunca morre - nem vão matar nossa história nem nossas lutas! ❤️
quem é lembrado nunca morre! é sobre isso <3 beyoncé tem uma música chatíssima sobre isso também hahaha aquela "i was here", detesto hahaha mas vale a mensagem. beijo, kami!
"Mas não há nada de misterioso no passado deles: o que encontrei foi simplesmente um vazio."
me lembrei de um ensaio da saidiya hartman chamado "vênus em dois atos", onde ela fala sobre um "silêncio de arquivo" e uma "violência de arquivo". caso não tenha lido, pode ser que seja legal pra sua pesquisa. joga os artigos científicos aqui pra nois s2
minha nossa nao conhecia, obrigada pela dica! vou atrás agorinha meijmo <3
ô, mulher, eu vou levar as reflexões desse texto para a EJA com certeza. como professora de história num projeto de educação popular que parte da escrita como princípio educativo, esse texto me despertou tantas ideias! é tão maravilhoso dar espaço para que alunos e alunas escrevam sobre seus sonhos pro futuro, sempre remetendo àquilo que eles trazem de seu passado... é bom demais se sentir parte desse registro de memória da classe trabalhadora, e teu texto me deu uma certeza de que tô no caminho certo. obrigada.
o queeeeeeeee? quero saber tudo! nossa mana que comentário mais emocionante, que bom que te inspira e que orgulho saber que tenho leitora professora de EJA (meu sonho, pena que nao fiz faculdade de pedagogia nem de coisa nenhuma). um dia me convida pra participar quero visitar a turmaaaa é onde? e se quiser manda mais detalhes dessa tua ideia por email? vamo trocar mais? ivanova.ivanova@gmail.com! beijo!
Memória em perspectiva de classe. Seu apagamento como projeto político. Quando a necessidade de olhar para as minhas perdas familiares (mulheres) dizem muito de uma dor-saudade que é também vazio-sintoma desse apagamento "histórico das famílias pobres", encontro alento na leitura desse texto. Vou tentando daqui impulsionar movimento que desemboque em algo partilhável com as minhas e os meus, com aquelas e aqueles além. Obrigada pela escrita e, sim, tenho interesse em acessar os artigos científicos.
tamo juntas, michele! vou pensar num jeito bonitinho de juntar todos os links sem ficar listona chata. um beijo pra tu
como essa história se repete, né? até os nomes. o nome da minha avó materna também era adelaide. o nome do meu avô paterno é raimundo. ela, no ceará. ele, no rio grande do norte. pra atrás, ninguém sabe nada. a palavra sempre volta: “pobreza”.
eu nao acredito que os nomes eram os mesmos <3 se bem que raimundo é, gracas a deus, um nome bem comum no sertao...! se eu tivesse filho esse ia ser o nome, mas como nao vou ter, espero que outros botem hahaha abraco pra tu!